Semana da visibilidade bi: 10 fatos sobre a bissexualidade - Grupo Dignidade
Por Anderson Costa

A bissexualidade é rodeada de mitos. Pessoas bissexuais são aquelas que se relacionam afetiva, sexual ou emocionalmente com pessoas do mesmo gênero que o seu e de um gênero diferente. Essa definição também inclui atração física, ou seja, não é necessário consumar uma relação para ser bissexual. Com o tempo, uma pessoa bissexual pode sentir-se atraída por homens ou mulheres (cis ou trans), ou sentir atração por um gênero mais do que por outro. A força dessa atração também pode variar com o tempo (Manual de Comunicação LGBTI+, 2018). O texto a seguir tem o objetivo de desconstruir alguns dos mitos criados pelo senso-comum em nossa sociedade.

“Eu me coloco como bissexual, pois tenho o conhecimento sobre o meu potencial de atração – romanticamente e/ou sexualmente – por pessoas de mais de um sexo e/ou gênero, não necessariamente ao mesmo tempo, não necessariamente da mesma forma, e não necessariamente no mesmo grau” (Robyn Ochs, ativista estadunidense de direitos bissexuais).

1. A bissexualidade existe e não é confusão ou indecisão

Não é confusão. Talvez seja para quem insiste em pensar de forma binária. A sociedade aceita que é possível sentir atração por pessoas de mais de uma etnia, cor de cabelo, altura, peso. Para bissexuais essa abertura também inclui gênero e não é necessário que você se sinta igualmente atraído por homens ou mulheres.

A confusão que perpassa a bissexualidade é na verdade uma função opressiva, como estar em cima de um muro que divide a homossexualidade e a heterossexualidade. Esse muro não existe, a não ser nas mentes das pessoas que dividem de forma rígida e binária a sexualidade.

2. A bissexualidade não é uma fase de experimentação da sexualidade

Muitas pessoas não entendem direito a bissexualidade e a encaram como uma fase de experimentação ou transição para um comportamento homo ou heterossexual. Isso pode acontecer, mas não é uma regra. É simples: se você sente atração por mais de um gênero, você pode ser bissexual.

3. Bissexuais não são homossexuais que não se aceitam totalmente

A bissexualidade é uma orientação sexual legítima. Muitos monossexuais – pessoas que se atraem e se relacionam sexualmente com apenas um gênero – enxergam a bissexualidade como uma orientação sexual conveniente ou inventada. A bissexualidade não cabe na caixinha da homo ou heterossexualidade. Em geral, uma pessoa bissexual sofre ceticismo e estereótipos sobre sua sexualidade e podem ser pressionadas pela sociedade, incluindo pessoas LGBTI+, a  “escolher um lado”, o que significa identificar-se como gay, lésbica ou heterossexual. Algumas pessoas passam por um período transicional no seu caminho para assumir uma identidade gay/lésbica ou mesmo heterossexual, mas para muitas outras pessoas a bissexualidade continua como uma orientação de longo prazo.

4. Bissexuais não são imorais, pervertidos, superficiais ou hedonistas.

A identidade bissexual enfrenta estereótipos sobre comportamento sexual, como promiscuidade, incapacidade de ser fiel ou de ter práticas sexuais saudáveis. Esses comportamentos, na verdade, ocorrem em pessoas de todas as orientações sexuais e identidades de gênero e pessoas bissexuais não estão mais propensas a estes. Esse pensamento também reflete nossa cultura ambivalente sobre o sexo e o prazer. O “sexual” em bissexual ganha ênfase, e nossa cultura projeta em bissexuais o fascínio e a condenação do sexo e do prazer.

5. Bissexualidade não significa ter parceiros de diferentes gêneros ao mesmo tempo.

Alguns bissexuais não têm relacionamentos com mulheres, outros com homens. A bissexualidade é mais sobre desejos e capacidades do que sobre atos. Bissexuais são pessoas que podem ter relacionamentos com ambos os sexos, não pessoas que precisam ter relacionamentos com ambos os sexos.

6. Bissexuais podem ser monogâmicos e fiéis

Pessoas bissexuais têm comportamentos sexuais variados, assim como lésbicas, gays e heterossexuais.  Alguns têm parceiros múltiplos, outros passam um período ou a vida toda sem parceiro algum. Isso reflete a variabilidade do comportamento humano.

7. Bissexuais não traem a causa gay/lésbica

Existe um mito de que bissexuais “se passam” por heterossexuais para evitar problemas e manter um privilégio. É claro que alguns bissexuais procuram evitar problemas, como ser demitido no trabalho por preconceito. “Fingir” ser heterossexual e negar que você ama pessoas do mesmo gênero é doloroso e prejudica tanto bissexuais quanto homossexuais. Muitas pessoas bissexuais politizadas têm noção do seu privilégio sexual e são comprometidas com os direitos de lésbicas/gays/bissexuais mesmo quando estão em relacionamentos heterossexuais.

8. Bissexuais não têm o melhor dos dois mundos ou o dobro de chances de um encontro

Vivemos em uma sociedade heteronormativa. Combine isso com a homofobia e o fato de muitas lésbicas/gays hesitarem em aceitar bissexuais em suas comunidades e podemos chegar a conclusão que, na verdade, bissexuais têm o pior dos dois mundos. A teoria da chance em dobro de um encontro depende muito mais da personalidade de um indivíduo do que da sua bissexualidade. Bissexuais não procuram ou fazem mais sexo do que indivíduos homossexuais ou heterossexuais. Se uma mulher bissexual tem dificuldades em conhecer pessoas, sua bissexualidade não a ajudará muito.

9. Bissexuais não são infelizes ou incompletos

Muitas lésbicas e gays já ouviram que viveriam uma vida infeliz. Bissexuais sofrem o mesmo tipo de dor que vem dessa opressão. Pessoas preocupadas com a “vida infeliz” de bissexuais deveriam entrar na luta contra a homofobia.

10. Bissexuais sofrem mais riscos de saúde

A invisibilidade e a marginalização que a comunidade bissexual sofre reflete sobre a saúde de seus membros. Em consequência, essas pessoas podem acabar evitando exames ou mentir sobre seu histórico sexual. Uma pesquisa do Bisexual Resource Center de Boston mostra que bissexuais têm uma tendência a enfrentar maiores disparidades de saúde, como taxas maiores de ansiedade e depressão. O Grupo Dignidade oferece testes de HIV gratuitos e sigilosos, além de acompanhamento psicológico. Visite-nos!

*Esse texto foi alterado e traduzido livremente por Anderson Costa, com base nos ensaios de Sharon Sumpter e Amanda Udis-Ressler sobre os mitos e a realidade da bissexualidade. As duas autoras se definem como bissexuais.

Referências:

Bisexual.org – Questions & Answers

Bisexuality: myths and realities

Manual de Comunicação LGBTI+

VICE – Parem de achar que a vida dos bissexuais gira em torno de sexo

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    15 thoughts on “Semana da visibilidade bi: 10 fatos sobre a bissexualidade

    1. Observador disse:

      Há um erro, digamos assim, de definir a atração sexual como “orientação sexual”. A orientação se encontra em muitos que óptam pelo casamento por satisfação social e até dão ouvidos a opinião de “conservadores” sobre o “que os outros vão dizer”. Meu último chefe seguiu este “roteiro” da Sociedade e indo até além: recua depois de paquerar, flertar publicamente. Não preciso dizer como ele é emocionalmente: reprimindo a Sexualidade (deixando de vivê-la em plenitude)!

      1. Humberto Souza disse:

        Observador, obrigado por colaborar no nosso blog!

    2. Muito bom esse post, vai ajudar diversas mulheres e também homens, assim como acabou de me ajudar com a minha dúvida. Sexo é vida, vamos expor nossas dúvidas, chega de Tabus!

    3. Cibele disse:

      Alguém vai ler?
      (Is anyone going to read it?)

      Homem Bissexual (Bisexual Man)
      Link:
      ohomembissexual.blogspot.com

      Bissexualidade Masculina
      (Male Bisexuality)
      Link: abissexualidademasculina.blogspot.com

      1. Humberto Souza disse:

        Obrigado pelas indicações de blog, Cibele. Vamos ver com carinho! Beijos 😀

    4. Humberto Souza disse:

      Carla, obrigado pelo seu feedback. Vamos continuar trazendo conteúdos pro blog. Esperamos que isso ajude outras pessoas, como ajudou você neste momento! Beijos 😀 :*

    5. Camila disse:

      Vou contar sobre minha situação atual..
      De uns tempos para cá, me peguei confusa sobre minha sexualidade. Me apaixonei seriamente em uma garota, que é muito especial pra mim! Meus sentimentos, e a emoção de vê-la chegar é inesplicável!! meu problema é me assumir , não sei o que pode acontecer, como vão me tratar ou se vai ser recíproco… Estou com medo de falar com meus pais, eles não sabem dessa minha opção sexual e não entenderiam.

      1. Humberto Souza disse:

        Camila, fique tranquila, pois tudo vai melhorar! Sobre você estar apaixonada, que bacana! É muito bom o sentimento de estar apaixonada, né?! Veja, sobre se assumir para a garota, precisamos pensar assim: por vezes a gente gosta muito de alguém, mas esta pessoa não está na mesma vibe que a gente e/ou não gosta da gente como gostamos dela, e tudo bem isso… É preciso saber que um “não” sempre temos, mas se não contarmos pra pessoa, o “sim” também não teremos hehehehe. Entende?! Sobre seus pais, nós temos parceria com o Mães Pela Diversidade e uma delas fica sempre na ONG as terças e quintas para conversar com quem precisa, pais e mães inclusive. Será que não seria legal você conversar com ela primeiro e, quem sabe, até seus pais conversarem com ela também? Você é de Curitiba?!

    6. Observador disse:

      Camila não adianta comentar se sabemos que não seremos entendidos. Minha experiência com cara nem se transformou em namoro, mas valeu para saber como será se vier a namorar um cara. E já faz um bom tempo que transei e nem falei com pessoas mesmo as mais compreensivas que pudessem ser.

    7. samuel nascimento disse:

      aceitar sua sexualidade ajuda diminuir , pelo que percebo, o peso da cruz imposta pela mãe natureza. ser o que se é sem armario ou qualquer tipo de esconderijo torna tudo em volta muito melhor. cruz ou estigma ; a aceitação de impulsos sexuais de homem ou mulher não vai mudar nada nunca mais. vivam suas vidas como elas se apresentam. ou será que a natureza vai ajudar alguma coisa? nasceu; já era.

    8. Evelyn disse:

      Ola eu me chamo Evelyn tenho 22 anos e tenho medo de me assumir bissexual

    9. Evelyn disse:

      Olá ! Eu me chamo Evelyn. tenho 22 anos , tenho medo do que os outros irão pensar quando me assumir bissexual , alguma dica?

      1. Humberto Souza disse:

        Evelyn, é importante você falar com algumas pessoas que são bissexuais também. TEmos um grupo de bissexuais no Grupo Dignidade e as reuniões aconteciam semanalmente (agora estão suspensas por conta do coronavírus). Mas você pode talvez pegar um contato com eles. Envie seu whats por aqui ou no nosso face e passamos para eles (não iremos postar seu comentário com whats aqui, ok?!) 😉

    10. Fernanda Da Costa disse:

      Em 2018 eu senti vontade de beijar uma menina (mas foi ela em específico). Eu sempre tive relacionamentos com rapazes, nunca gostei de alguma menina ao ponto de querer namorar com ela. No ano passado(2019) eu tive vontade de ficar com 2 meninas(não digo no sentido de querer namorar). Eu sinceramente não sei se sou bissexual. já que eu acho que uma pessoa bi teria interesse em namorar com pessoa do mesmo sexo, mas eu tenho apenas atração sexual. Sou bi?

    11. Dug disse:

      Oi Fernanda, só para te dizer que sexulidade não tem nada a ver com o lado romantico então eu poderia sentir atração por homens e não querer namorar um e está tudo bem com isso, espero ter ajudado.

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