Pesquisa inédita traça perfil da população LGBTI+ de Curitiba e Região Metropolitana

Curitiba, 02 de fevereiro de 2018 – Ao todo, 1.326 pessoas responderam pesquisa virtual realizada pelo Grupo Dignidade, Instituto Brasileiro de Diversidade Sexual e Aliança Nacional LGBTI.

A pesquisa faz parte do Projeto Comunicare, que trata do conjunto das ações e atividades de comunicação do Grupo Dignidade e organizações coligadas. Foi aplicada em agosto de 2017 e foi composta por 35 perguntas sociodemográficas e sobre padrões de consumo, comunicação e opiniões sobre a militância LGBTI+, entre outras. Teve como objetivo obter o perfil da população LGBTI+ de Curitiba e Região Metropolitana que utiliza as redes e mídias sociais, a fim de ter dados para servir de subsídio para o direcionamento das ações e atividades do Grupo Dignidade e organizações coligadas.

Responderam pessoas de todas as faixas etárias, desde as com menos de 14 anos até aquelas com mais de 60. A maioria (60%) são jovens entre 18 e 29 anos. 72% afirmaram morar em Curitiba, 21% na Região Metropolitana e, por ser virtual, a pesquisa atingiu respondentes (75) que moravam em outras cidades ou estados. Pessoas residentes em 55 dos 75 bairros de Curitiba responderam a pesquisa. Os bairros mais representados de Curitiba foram: Centro, 25% (n=328); Fazendinha, 6,2% (n=82); Boa Vista, 5,8% (n=76); Cajuru, 5,7% (n=75). Já os municípios mais representados da Região Metropolitana foram: Colombo, 5,1% (n=67); Pinhais, 4,3% (n=56); São José dos Pinhais, 3,6% (n=47).

44% se identificaram como gays, 22% como lésbicas, 23% como bissexuais. 2,26% (n=30) se identificaram como homens trans e 1,13% (n=15) como mulheres trans ou travestis. Mesmo assim, a diversidade das demais respostas revela que as pessoas têm diversas maneiras de se perceberam e se identificarem, inclusive por meio do uso de outras nomenclaturas. Por este motivo o Grupo Dignidade e organizações coligadas passaram a usar a sigla LGBTI+, onde o símbolo + foi acrescentado para abranger outras orientações sexuais, identidades e expressões de gênero.

63,3% (n=840) se assumiram publicamente como LGBTI+ até os 21 anos de idade. Por outro lado, 15% (n=200) não são assumidos(as).

Em relação ao estado civil, 59% (n=783) são solteiros(as); 23% (n=305) estão namorando e 16,4% (n=218) são casados(as). 32,2% (n=427) afirmaram ter renda familiar na faixa de R$ 3.801,00 a R$ 9.400,00.

Quanto à raça/etnia/cor: 73% (n=968) branca; 17,8% (n=237) parda; 6,4% (n=85) negra; 1,7% (n=23) amarela; e 0,3% (n=4) indígena.

19,2% afirmaram não ter uma religião, 13,9% são agnósticos e 8,4% ateus. 19,4% são católicos(as) e 15,5% se descreveram como cristãos(ãs); 7,9% espírita; 5,8% umbandistas e 2% candomblecistas. 1,68% são protestantes ou evangélicos(as). Os dados demonstram que muitas pessoas creem, mas não participam ativamente das igrejas porque não se sentem acolhidas em função de serem LGBTI+.

Quando perguntados(as) sobre a sua posição política, 38% (n=504) afirmaram não ter qualquer posição e 51,6% (n=684) são de esquerda ou centro-esquerda.

Sobre a frequência da realização de testes de HIV, 63,8% (n=846) afirmaram fazer com periodicidade variando entre mensal e anualmente. 36,2% (480) afirmaram nunca ter feito o teste.

Quando perguntados(as) se conhecem ONGs LGBTI+ em Curitiba, a pesquisa revelou que os(as) respondentes têm conhecimento do Grupo Dignidade e organizações coligadas:

A última pergunta do questionário, sobre as opiniões a respeito da militância LGBTI+, deflagrou uma onda de respostas das mais diversas, oferecendo amplo conteúdo para análise e orientação das ações e atividades dos grupos da militância LGBTI, ocupando 18 páginas – mais de a metade – do relatório dos resultados.

A pesquisa também traz vários dados sobre comunicação entre e com a população LGBTI+, e seus enlaces com a militância e divulgação de eventos e acontecimentos envolvendo as pessoas LGBTI+.

Alguns dados saltam aos olhos, em especial o elevado percentual de pessoas que já pensaram em se suicidar.

SUICÍDIO, DISCRIMINAÇÃO E ACEITAÇÃO PELA FAMÍLIA

56,3% (n=741) já pensam em se suicidar.

84,4% sofreram discriminação: 44,5% (n=796) afirmaram ter sofrido discriminação indireta (olhares, falta de educação, entre outros); 33% (n=592) relataram discriminação psicológica, com agressão verbal; e 6,9% (n=124) sofreram agressão física. 9,95% (n=132) não são aceitos(as) pela família e 43,82% (n=581) se consideraram “mais ou menos” aceitos(as) pela família.

Os dados sobre ideações suicidas são corroborados por outras pesquisas. Estudos recentes nos EUA reafirmaram que jovens que se identificam como LGBTI+ têm maior risco de tentar se suicidar que jovens heterossexuais. Outra pesquisa nacional nos EUA revelou que 40% dos jovens LGBTI pensaram seriamente em se suicidar e 25% tentaram de fato, comparados com apenas 6% de seus pares heterossexuais.[1]

Em relação à discriminação sofrida por pessoas LGBTI+, pesquisa executada pelo Grupo Dignidade em parceria com outras organizações em 2015/2016 sobre a situação de estudantes LGBTI nos ambientes educativos no Brasil[2] revelou que 73% dos(das) estudantes LGBTI+ com entre 13 e 21 anos de idade foram agredidos(as) verbalmente nas escolas. Isto vem a corroborar os 77,5% que sofreram discriminação indireta/psicológica nesta nova pesquisa.

Na atual pesquisa sobre LGBTI+ em Curitiba e Região Metropolitana, 29,3% (n=683) foram discriminados(as) na rua; 23,2% (n=541) na escola/faculdade; 23,1$ (n=539) em casa/família; 11,2% (n=262) no trabalho; e 10,3% (n=241) no comércio. Em alguns casos, a mesma pessoa sofreu discriminação em mais de um desses locais.

38,4% (n=657) sabem que podem denunciar a LGBTIfobia na delegacia; 13,3% (n=228) na internet e redes socais; e 10,3% (n=177) na delegacia e também na internet/redes sociais. 33% (n=565) afirmaram que nunca foram informados(as) sobre como denunciar e 3,2% (n=54) disseram que mesmo que soubesse, não denunciariam.

A pesquisa de 2015/2016 sobre o ambiente escolar[2] também revelou que 65,1% dos(das) estudantes LGBTI não encontravam na família apoio para enfrentar o bullying LGBTIfóbico que sofrem na escola. Este dado vem ao encontro dos 53,8% na pesquisa sobre LGBTI em Curitiba e Região Metropolitana que não são aceitos(as) ou não são totalmente aceitos(as) pela família.

Ampliação de serviços

Os dados da pesquisa sobre LGBTI em Curitiba e Região Metropolitana já estão contribuindo para a orientação das ações do Grupo Dignidade e organizações coligadas. A entidade já realiza 100 atendimentos psicológicos por mês gratuitamente e a meta para 2018 é dobrar a disponibilidade de atendimentos, em vista da demanda reprimida e dos resultados da pesquisa em relação a pensamentos suicidas.

Outra área de atuação do Grupo também com previsão de ampliação é o projeto It Gets Better Brasil, que tem por objetivo fornecer mensagens de esperança via internet para adolescentes LGBTI que estejam sofrendo bullying e isolamento em função da orientação sexual e/ou identidade/expressa de gênero diferente da heteronorma.[3]

Além das mensagens positivas, com depoimentos de pessoas LGBTI e aliadas adultas mostrando que apesar da difícil fase da adolescência, a vida vai melhorar ou já melhorou (It Gets Better), estão sendo articuladas no âmbito nacional redes de apoio psicológico e jurídico para atender os casos mais graves que vão surgindo.

LGBTI+ E O MUNDO DO COMÉRCIO

52,9% se sentem muito melhor atendidos(as) em empresas que tenham LGBTI+ como funcionários. 39,2% deixariam de frequentar locais por não serem “LGBTI+ Friendly” 68,1% acreditam que é necessário um alto nível de treinamento para que os prestadores de serviço atendam o público LGBTI+, e que os mesmos devem estar sempre atualizados.

Pesquisa-piloto

A pesquisa foi realizada para testar o instrumento de coleta de dados no âmbito local, em preparação para uma pesquisa nacional da mesma natureza a ser realizada ainda em 2018, que terá estrutura aprimorada a partir das lições aprendidas com o teste.

As respostas às perguntas abertas não foram analisadas/agrupadas por semelhança. As respostas a essas perguntas com maiores percentuais constam primeiro, seguidas das demais por ordem de percentual/ordem alfabética. A pesquisa de 2018 terá análise mais aprofundada e a possibilidade de acesso ao banco de dados.

Acesse os resultados da pesquisa  Clique Aqui

 

SOBRE O GRUPO DIGNIDADE

O Grupo Dignidade é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos. Foi fundado em 1992 em Curitiba, sendo pioneiro no Paraná por ser o primeiro grupo organizado no estado a atuar na área da promoção da cidadania de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, intersexuais (LGBTI+). Em seu primeiro estatuto constava entre as finalidades “promover a organização dos grupos homossexuais do Brasil em uma Confederação”. Desde o início, foi atuante neste sentido e, junto com outros grupos da época, ficou à frente do processo de formação de entidades LGBTI+ locais e nacionais, como a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) em 1995 e a rede que passaria a ser a Aliança Nacional LGBTI+ em 2009. Foi a primeira organização LGBTI+ no Brasil a receber o título de Utilidade Pública Federal, por decreto presidencial em 05 de maio de 1997, e sua atuação sempre ocorreu tanto no nível local como no âmbito nacional.

 

CONTATOS

Toni Reis

DIRETOR EXECUTIVO GRUPO DIGNIDADE

(41) 9-9602-8906

Lucas Siqueira

DIRETOR ADMINISTRATIVO GRUPO DIGNIDADE

(43) 9-9983-6793

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[1] https://equal-eyes.org/portuguese/2018/1/11/olhar-para-a-igualdade-9-de-janeiro-de-2018

[2] http://www.grupodignidade.org.br/projetos/acao-na-educacao/

[3] https://www.youtube.com/watch?v=w29Wdmkkh2I