A bissexualidade é rodeada de mitos. Pessoas bissexuais são aquelas que se relacionam afetiva, sexual ou emocionalmente com pessoas do mesmo gênero que o seu e de um gênero diferente. Essa definição também inclui atração física, ou seja, não é necessário consumar uma relação para ser bissexual. Com o tempo, uma pessoa bissexual pode sentir-se atraída por homens ou mulheres (cis ou trans), ou sentir atração por um gênero mais do que por outro. A força dessa atração também pode variar com o tempo (Manual de Comunicação LGBTI+, 2018). O texto a seguir tem o objetivo de desconstruir alguns dos mitos criados pelo senso-comum em nossa sociedade.

“Eu me coloco como bissexual, pois tenho o conhecimento sobre o meu potencial de atração – romanticamente e/ou sexualmente – por pessoas de mais de um sexo e/ou gênero, não necessariamente ao mesmo tempo, não necessariamente da mesma forma, e não necessariamente no mesmo grau” (Robyn Ochs, ativista estadunidense de direitos bissexuais).

1. A bissexualidade existe e não é confusão ou indecisão

Não é confusão. Talvez seja para quem insiste em pensar de forma binária. A sociedade aceita que é possível sentir atração por pessoas de mais de uma etnia, cor de cabelo, altura, peso. Para bissexuais essa abertura também inclui gênero e não é necessário que você se sinta igualmente atraído por homens ou mulheres.

A confusão que perpassa a bissexualidade é na verdade uma função opressiva, como estar em cima de um muro que divide a homossexualidade e a heterossexualidade. Esse muro não existe, a não ser nas mentes das pessoas que dividem de forma rígida e binária a sexualidade.

2. A bissexualidade não é uma fase de experimentação da sexualidade

Muitas pessoas não entendem direito a bissexualidade e a encaram como uma fase de experimentação ou transição para um comportamento homo ou heterossexual. Isso pode acontecer, mas não é uma regra. É simples: se você sente atração por mais de um gênero, você pode ser bissexual.

3. Bissexuais não são homossexuais que não se aceitam totalmente

A bissexualidade é uma orientação sexual legítima. Muitos monossexuais – pessoas que se atraem e se relacionam sexualmente com apenas um gênero – enxergam a bissexualidade como uma orientação sexual conveniente ou inventada. A bissexualidade não cabe na caixinha da homo ou heterossexualidade. Em geral, uma pessoa bissexual sofre ceticismo e estereótipos sobre sua sexualidade e podem ser pressionadas pela sociedade, incluindo pessoas LGBTI+, a  “escolher um lado”, o que significa identificar-se como gay, lésbica ou heterossexual. Algumas pessoas passam por um período transicional no seu caminho para assumir uma identidade gay/lésbica ou mesmo heterossexual, mas para muitas outras pessoas a bissexualidade continua como uma orientação de longo prazo.

4. Bissexuais não são imorais, pervertidos, superficiais ou hedonistas.

A identidade bissexual enfrenta estereótipos sobre comportamento sexual, como promiscuidade, incapacidade de ser fiel ou de ter práticas sexuais saudáveis. Esses comportamentos, na verdade, ocorrem em pessoas de todas as orientações sexuais e identidades de gênero e pessoas bissexuais não estão mais propensas a estes. Esse pensamento também reflete nossa cultura ambivalente sobre o sexo e o prazer. O “sexual” em bissexual ganha ênfase, e nossa cultura projeta em bissexuais o fascínio e a condenação do sexo e do prazer.

5. Bissexualidade não significa ter parceiros de diferentes gêneros ao mesmo tempo.

Alguns bissexuais não têm relacionamentos com mulheres, outros com homens. A bissexualidade é mais sobre desejos e capacidades do que sobre atos. Bissexuais são pessoas que podem ter relacionamentos com ambos os sexos, não pessoas que precisam ter relacionamentos com ambos os sexos.

6. Bissexuais podem ser monogâmicos e fiéis

Pessoas bissexuais têm comportamentos sexuais variados, assim como lésbicas, gays e heterossexuais.  Alguns têm parceiros múltiplos, outros passam um período ou a vida toda sem parceiro algum. Isso reflete a variabilidade do comportamento humano.

7. Bissexuais não traem a causa gay/lésbica

Existe um mito de que bissexuais “se passam” por heterossexuais para evitar problemas e manter um privilégio. É claro que alguns bissexuais procuram evitar problemas, como ser demitido no trabalho por preconceito. “Fingir” ser heterossexual e negar que você ama pessoas do mesmo gênero é doloroso e prejudica tanto bissexuais quanto homossexuais. Muitas pessoas bissexuais politizadas têm noção do seu privilégio sexual e são comprometidas com os direitos de lésbicas/gays/bissexuais mesmo quando estão em relacionamentos heterossexuais.

8. Bissexuais não têm o melhor dos dois mundos ou o dobro de chances de um encontro

Vivemos em uma sociedade heteronormativa. Combine isso com a homofobia e o fato de muitas lésbicas/gays hesitarem em aceitar bissexuais em suas comunidades e podemos chegar a conclusão que, na verdade, bissexuais têm o pior dos dois mundos. A teoria da chance em dobro de um encontro depende muito mais da personalidade de um indivíduo do que da sua bissexualidade. Bissexuais não procuram ou fazem mais sexo do que indivíduos homossexuais ou heterossexuais. Se uma mulher bissexual tem dificuldades em conhecer pessoas, sua bissexualidade não a ajudará muito.

9. Bissexuais não são infelizes ou incompletos

Muitas lésbicas e gays já ouviram que viveriam uma vida infeliz. Bissexuais sofrem o mesmo tipo de dor que vem dessa opressão. Pessoas preocupadas com a “vida infeliz” de bissexuais deveriam entrar na luta contra a homofobia.

10. Bissexuais sofrem mais riscos de saúde

A invisibilidade e a marginalização que a comunidade bissexual sofre reflete sobre a saúde de seus membros. Em consequência, essas pessoas podem acabar evitando exames ou mentir sobre seu histórico sexual. Uma pesquisa do Bisexual Resource Center de Boston mostra que bissexuais têm uma tendência a enfrentar maiores disparidades de saúde, como taxas maiores de ansiedade e depressão. O Grupo Dignidade oferece testes de HIV gratuitos e sigilosos, além de acompanhamento psicológico. Visite-nos!

*Esse texto foi alterado e traduzido livremente por Anderson Costa, com base nos ensaios de Sharon Sumpter e Amanda Udis-Ressler sobre os mitos e a realidade da bissexualidade. As duas autoras se definem como bissexuais.

Referências:

Bisexual.org – Questions & Answers

Bisexuality: myths and realities

Manual de Comunicação LGBTI+

VICE – Parem de achar que a vida dos bissexuais gira em torno de sexo